Leia um trecho do livro
Introdução
Quando completei vinte anos, no dia 17 de fevereiro de 1953, comecei a escrever o “Meu Diário”.
Fazia-o todas as noites, antes de deitar, anotando os fatos importantes ocorridos durante o dia e, às vezes, rememorando os anteriores, as etapas significativas do meu passado, as lutas e sofrimentos até chegar aonde cheguei.
Naquela oportunidade já estava morando e estudando em Passo Fundo, cursando o 1º Clássico no Colégio Conceição, depois de vencida a etapa mais difícil, que foi a de passar no exame do tão sonhado Artigo 91, feito para encurtar caminho, pois me achava já muito velho para me formar, se enfrentados os quatro anos do Ginásio.
Estava, então, servindo o Exército Nacional, era o Cabo 338, pois não pude fugir ao serviço militar que, felizmente, não interrompeu meus estudos, por circunstâncias favoráveis narradas no livro.
Escrevi o “Diário” em períodos importantes de minha vida, fazendo-o diariamente até 01.03.1957 e, depois, em dias alternados e variados, quando houvesse motivo, até 01.04.1960, sendo posteriormente anotados alguns fatos, com resumo dos vividos, nos anos que se sucederam, até 1981.
Vencedor da Revolução de 1930, Getulio Vargas escreveu em seu caderno, no dia 3 de outubro desse ano:
“Se todas as pessoas anotassem diariamente num caderno seus juízos, pensamentos, motivos de ação e as principais ocorrências de que foram parte, muitos, a quem um destino singular impeliu, poderiam igualar as maravilhosas fantasias descritas nos livros de aventuras dos escritores da mais rica fantasia imaginativa. O aparente prosaísmo da vida real é bem mais interessante do que parece. Lembrei-me que, se anotasse diariamente, com lealdade e sinceridade, os fatos da minha vida como quem escreve para si mesmo, e não para o público, teria aí um largo repositório de fatos a examinar e uma lição contínua da experiência a consultar”.
Também anotei os fatos de minha vida com lealdade e sinceridade, escrevendo para mim mesmo, despreocupado com as vistas do futuro. É o retrato da minha alma, como escrevi no Diário, um ano após iniciá-lo, encerrando o 1º volume:
“Um dia, se eu quiser redescobrir o jovem que em mim viveu, os seus íntimos tormentos, as suas lutas, obstáculos, aspirações, sentir as ardências de seu nobre Ideal, ouvir a música de sua sensibilidade, carpir o seu fracasso ou celebrar a sua vitória, soprarei, então, destas páginas, o pó, porque sob ele está o retrato da própria alma; nele germina a semente da sublime esperança de vencer, esperança que se torna obsessão, que culmina na vitória. Luta e vencerás !”.
Espero que este relato de vida, de muita luta e de esperança possa ser útil a eventual leitor, apontando-lhe caminhos e abrindo horizontes. Por isso procurei redescobrir o jovem que em mim viveu, soprando o pó das paginas do Diário, para celebrar sua vitória e a de todos os que lutaram e venceram, como também a dos que lutarem, porque vencerão também !
Lembro e faço minhas, por oportunas, as palavras de David Coimbra, finalizando uma crônica sobre seus livros e o próximo a ser publicado, sob o título A Graça de Escrever:
“O que escrevi, nesse tempo de transformação e de luta, escrevi com as entranhas. Muito do que senti e pensei derramei por essas linhas. É um tempo importante que, por não querer esquecer, imortalizei em papel. Gostei de escrever a respeito. Espero que o eventual leitor do livro sinta isso. Sinta o prazer que senti. E entenda um pouco desse tempo que vivi, vivemos todos, juntos ou separados, um tempo em que vencemos. Venceremos”.