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Introdução
Despertar de uma Vocação
A história da conquista e colonização de América, põe de relevo a ação daqueles que foram personagens principais de projetos alternativos, ainda que dentro do sistema colonial, como o impelido para os Padres da Companhia de Jesus que procurou, e resolveu, aspectos essenciais à sobrevivência e evangelização de milhares de almas indígenas. Neste contexto, a personalidade de Antônio Ruiz de Montoya adquire conotações particulares, as quais avolumam-se ao aprofundarmos as investigações.
Ele tinha nascido em 13 de junho de 1585 na cidade de Lima de los Reyes, vice-reinado do Peru, filho de Cristóbal Ruiz, cavalheiro andaluz de Montoya e da senhora limenha, Ana Vargas. A solidão a qual a vida o tinha exposto - com a perda prematura de seus pais - o levou, em várias ocasiões, a resolver por si próprio, apesar de seus poucos anos, as vicissitudes de sua situação de orfandade. Talvez ela ajude mesmo a entender sua vocação para a coisa mística e sua decisão de entrar, a pedido de um Padre jesuíta, para a “Real Escola de San Martin” de Lima.
Muito cedo a sua energia múltipla se tornaria uma força que o impulsou a abandonar os estudos e seguir uma vida desorientada; adolescente enfim, procurou as festas com os amigos e as aventuras. Interiormente, contudo, permaneceu intata sua fé, como uma fonte que depois transbordaria em um misticismo inesgotável. Uma vez passados os tempos de desânimo, nos que sentiu frequentemente chamadas de advertências que urgiram que voltasse ao Seminário, foi acolhido e animado em suas virtudes pelo P. Gonzalo Suarez.
De noviço a missionário
Entrou no Noviciado em 1606 depois de 11 meses de estudos preparatórios. Lá percebe, de forma definitiva, a motivação que encoraja-o para seguir sua vocação de missionário, defensor e promotor de uma vida merecedora para os índios. O P. Jarque (1900), o seu primeiro biógrafo, e o mesmo P. Antônio, na “Conquista Espiritual”, dizem:
“... en este punto le mostraron un grandísimo campo de gentiles y algunos hombres que con armas en las manos corrían tras ellos, y dándoles alcance los aporreaban con palos, y cogiendo y cautivando a muchos, los ponían en muy grandes trabajos. Vio juntamente unos varones más resplandecientes que el sol....Conoció ser de la Compañía de Jesús....Aquellos varones procuraban con todo conato arredrar a aquellos que parecían demonios, que todo hacía una representación del juicio final, como comúnmente lo pintan: a los ángeles defendiendo las ánimas, y a los demonios ofendiéndolas. Vio que hacían oficio de ángeles los de la Compañía, con cuya vista se encendió en un ardiente deseo de serles compañero en tan honroso empleo. Siguióse luego el ver y sentir experimentalmente que Cristo nuestro Señor bajaba de lo alto.... y acercándose a El que estaba de rodillas, le echó el brazo sobre sus hombros...Aquí entendió que Cristo Jesús ...le escogía para la provincia del Paraguay en donde había suma de gentiles que sólo esperaban oír las dichosas nuevas de las bodas del cordero imprimiéndoles en su alma un ardiente deseo de emplearse en su conversión...” (MONTOYA, 1639:25-27).
Convencido do seu destino missionário, ele implora aos seus superiores para empreender com urgência a evangelização e defesa dos índios, sem se interessar por um maior desenvolvimento de sua carreira dentro da Ordem. Diego de Torres Bollo, primeiro provincial da Companhia no Peru, em face à necessidade de padres para o imenso território que se abria para o trabalho dos padres, aceitou o oferecimento do Irmão Antônio Ruiz de Montoya, autorizando a sua ordenação sem grau acadêmico. O mesmo P. Torres depois reconheceria como: “...varón perfecto, de mucha oración; en la conversión de la gentilidad acomete muchos trabajos con riesgo de la vida; de muy buen gobierno, fue pecado quitarle los estudios, porque pudiera ser provincial; imita los pasos de nuestro San Francisco Xavier en ánimo, trabajo y discreción”. (Cfr: FURLONG, Montoya, 1954: 11-12)
Em Santiago del Estero, a 2 de março de 1611 é ordenado padre pelo Bispo Hernando de Trejo y Sanabria; na viagem de Córdoba foi acompanhado pelo P. Francisco Vazquez de la Mota e os colegas de escola Pedro Romero, Martin Javier Urtasum e Cristóbal Diosdado.
A redução ao idioma Guarani
Em princípios de setembro de 1611 chega a Asunción del Paraguay devendo esperar mais de seis meses para continuar viagem rumo à Missão do Guairá, onde, segundo carta do Padre Provincial de 23 de setembro de 1611, já tinha começado a atividade missionária:
“Digo que como a V.S. le consta yo tengo ocupados seis sacerdotes de la Compañía en tres pueblos y reducciones de los indios Guaycurús, Paraná y Tabagiba, (Tibagí), los cuales se ocupan en reducir y doctrinar dichos indios, y esto hice por orden e instancia del señor Hernando Arias de Saavedra.” (TORMO SANZ y BLANCO,1989:89)
Seguindo os trabalhos do Fray Luis Bolaños, do Padre Diego González Holguín e do Padre Francisco de San Martín, conseguiu aprofundar-se no estudo da língua, tendo-se previamente preparado com o conhecimento básico da teoria, normas, esquemas e regras gramaticais. Sua observação aguda deixou-o percebeu as diferenças, os distintos matizes das expressões e as múltiplas variações de importância para uma cabal compreensão da língua. Posteriormente, já no trabalho missionário com os índios, adquiriu na prática cotidiana o domínio do idioma guarani.
Sabia, desde o começo, a natureza dos inconvenientes que estava para enfrentar:
“Montoya aprendió del P. González Holguín algo más que la estructura de las lenguas. Conoció cuáles eran los atropellos, los vejámenes, las crueldades que oprimían a los indios de la región que ambos debían evangelizar. Afiló no sólo las armas de las letras para vencer en el combate del idioma, sino también el acero de una recta conciencia con ideas claras y precisas para derrotar violencia y desórdenes.”( TORMO SANZ y BLANCO, 1989:81)