A palavra é a melhor distância entre dois pontos. Aproxima, mas é consciente de seus limites. Na poesia, fica explícita a impossibilidade do toque entre a fonte e seu destino. É quando surge a lonjura, material trabalhado com emoção e afinco por Marga Cendón, poeta que estreia neste livro com a maturidade da linguagem própria. Identificada com o pampa, onde vive, ela busca capturar a mensagem que nos escapa, esse pássaro de plumas imprecisas, ar de fôlego múltiplo. Impregna-se da água que a cerca em forma de rio, arroios, lagoas, sangas, lavando seu olhar livre de amarras. Pisa nas margens, barro, flor e grama e palmilha o improvável território que a separa do horizonte, com árvores agrupadas em solidões sugerindo o infinito. A concentração e o silêncio a devolvem para a memória e o cultivo do tempo resgatado numa temperatura dividida entre alívio e dor, entre claridade e neblina.Com sua arte embalada pelos quatro elementos, Terra, Água, Fogo e Ar, M. Cendón revela o que não podemos tocar a não ser pela lágrima enxuta, o abraço implícito, o beijo suspenso, o sonho pelo avesso. Uma viagem junto com as imagens que funcionam aqui como o verbo vertendo um sopro de formas, contornos de luz e sombra, composto de versos em pleno viço. A leitura se ampara nesse mergulho de revelações ocupando um posto privilegiado, onde pode combinar a sintonia que aqui nos presta socorro. (Nei Duclós)