Leia um trecho do livro
Introdução
Por que Muiraquitã? Foi o meu questionamento após a conclusão da leitura dos primeiros textos desta coletânea poética. À medida que prosseguia na leitura, incontroláveis indagações distanciavam-me daquela inquietação provocada pelo título, afinal cada página me dirigia ao intangível, à estranheza e, ao mesmo tempo, ao brilho da palavra e à concretude de um todo que nos cerca e se manifesta na poesia. Realizei que Luiz Eduardo oferecia ao leitor não a sorte do amuleto macunaímico, mas força e magia, signos contidos nas palavras que ele manipula e recria.
O poeta apropria-se de manifestações artísticas que na década de 1950 garantiram à poesia uma dimensão verbo-visual, rompendo com a linearidade. Em outros momentos, incorpora ao design gráfico um discurso centrado na estrutura oracional, o que é exemplificado em “Cristalino”: uma lente natural que enxerga além, reflete a alma.
Luiz Eduardo é um poeta contemporâneo. Sua produção poética, ao mesmo tempo em que dialoga com técnicas vanguardistas, engaja-se no cotidiano, valoriza a síntese e traz uma intertextualidade explícita, em conformidade com o texto original, ou opondo-se a ele. Sua ação poética projeta silêncio e estimula reflexões.
Sensível aos encantos da poesia, ele oferece ao leitor a sua muiraquitã: palavras de efeitos poderosos e mágicas (porque não?!), que surpreendem, seduzem e desafiam.
Suzete Silva Trovão
CURTURA
Última flor do Lácio genética,
Mal se diz uma herança verbal,
Nela, subscreve um ódio tribal,
Morrem banais onde ronda estética.
Trepadeira que enoda a política
Espalha cíclica a peste mítica:
Tudo o que decola despedaça -
Projeto julgamento até traça.
Traça uma ciclovia abismática,
Óbvia, concreta, um ver abismado,
Escondida na psicossomática
Da gente que passa, no passado
repetido em que se gruda à bílis,
É subcutânea a máfia brasílis.